terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dança com Véus III (última parte)

 Na Rússia, as danças ciganas também utilizavam xales, assim como na Espanha, as dançarinas de flamenco usam seus mantons. 

Guilhermina Martinez Cabrejas, bailarina espanhola - 1917-2008


       A dança com véus como conhecemos hoje, entrou para as apresentações teatrais de dança oriental a partir de 1940. A historiadora Morocco diz que, durante suas viagens ao norte da África e Egito, ao perguntar para as famosas dançarinas egípcias Samia Gamal e Tahia Carioca por que não havia danças com véus, recebeu a seguinte resposta: “não sabíamos da existência de uma dança que utilizasse véus até bem pouco tempo. Nem havíamos ouvido falar em algo desse gênero". 


          O que tivemos de concreto foi na época do rei Farouk. Uma coreógrafa russa chamada Ivanova, por volta de 1940, foi convidada para a corte egípcia para ministrar aulas para as filhas do rei, e ensinou Samia Gamal algo sobre o trabalho com véus, entradas em cena e enriquecimento da elaboração do movimento de braços. Ivanova, por sua vez, parece ter aprendido através de uma dança caucasiana do Marrocos. Ela ensinou outras dançarinas famosas como as gêmeas Jamal. Samia Gamal tornou o véu popular nos teatros egípcios e o apresentou nos Estados Unidos em um filme entitulado Ali Babá e os 40 Ladrões, que foi então exportado para outros países. 
                                                                 Samia Gamal (1924 - 1994)

  O véu foi popularizado e incorporado por outras dançarinas orientais em seu repertório. O balé russo adicionou o véu a suas coreografias, talvez emprestando essa idéia do Cáucaso ou de Salomé de Oscar Wilde.
       A dança com véus foi popularizada nos Estados Unidos e tem suas raízes na Dança dos Sete Véus, de Oscar Wilde, por intermédio das famosas dançarinas KateVaughan e Lole Fuller e das visões hollywoodianas do antigo Oriente. É bem possível que Hollywood tenha sido influenciada pelos cartões postais da virada do século, que mostravam mulheres semi-nuas, posando como bailarinas de harém. Colorida e sensual, é fácil compreender por que a dança com véu se popularizou. Em 1950, havia pouquíssimas dançarinas orientais nos Estados Unidos. Podiam ser encontradas apenas em casas noturnas étnicas. Se elas executavam sua dança com véu, era mais por influencia de Hollywood ou de Samia Gamal, do que propriamente um costume trazido do Marrocos.

       Pessoas do norte da África e do Oriente Médio não compreendem a dança com véus de hoje. Não trata-se de um strip-tease. Por essa razão, as dançarinas orientais usam os véus por pouquíssimo tempo, ao entrar em cena, e logo os abandonam. “Elas não perdem tempo utilizando-o, já que seu público não o aprecia”, diz Morocco.
       De qualquer forma, essa dança muito difícil de ser rastreada, não deixa de ser por isso interessante e encantadora. Há uma perda de continuidade na história de dança dos véus. Ela aparece, desaparece, e aparece novamente. Tornou-se fora de moda no Egito, mas pode ser encontrada na Turquia. Para ter os mais interessantes e elaborados usos dos véus, precisamos observar as bailarinas dos Estados Unidos, Inglaterra ou Europa.
       A magia e a sensibilidade de uma bela dança utilizando os véus pode proporcionar uma experiência deliciosa e um banquete para os sentidos...



Texto traduzido do manuscrito The Illusive Veil, de Elizabeth Artemis Mourat.

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