quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Geometria do Corpo


A Estrutura Ideológica da Forma no Corpo

O Círculo 
O círculo é uma figura racional, representa estabilidade evolutiva, por estar sempre em contínuo movimento. O círculo é constituído por uma curva contínua sem fim. Em movimento no corpo, atua como descongestionante de tensões acumuladas.
Em termos de movimento, pode estar relacionado ao aspecto mãe-feminino, embora em sua representação numínica possa estar ligada ao aspecto masculino-pai; isso porque o círculo comumente está associado à representação do céu, que na nossa cultura está ligado ao aspecto psicológico do pai, embora em algumas outras culturas como a egípcia antiga, por exemplo, o círculo representasse o céu pela deusa Nut, a mãe-céu, e na grega, Gaia, a terra, que é redonda. Em termos de movimento, está relacionado à mãe porque seu efeito visual é feminino.
Assim, redondos são movimentos de natureza cinestésica yin. Os movimentos circulares também podem representar a convergência ao centro feminino, com sua respectiva simbologia uterina e ctônica com o centro da terra – convergência para o centro feminino interior, convergência para si mesma.

A Estrutura Ideológica da Forma no Corpo

O Triângulo
O triângulo representa dinamismo, estabilidade e, mobilidade, mas, se invertido, pode representar perigo, instabilidade e desequilíbrio. O triângulo é constituído por linha ascendente e descendente diagonal e reta horizontal, que são representadas, na dança, através dos acentos dos shimmies. É uma figura racional e masculina, embora nas pesquisas de Lawlor, sua relação seja simbolicamente intermediária – entre o feminino e o masculino.
Em termos de movimento, ele pode aparecer nos momentos de transição – de um movimento feminino para um masculino, a fim de criar alguma coisa nova. O que caracteriza um movimento em gênero, é sua característica visual, seu significado numínico e sua natureza cinestésica. Por exemplo: num deslocamento, ou com um peso em uma perna, eu realizo movimentos yin, como oitos e redondos.
Ao transferir o peso para a outra perna, ou me dirigir para a segunda extremidade do espaço cênico, eu realizo movimentos yang (shimmies e breaks) e em seguida concentrar o peso entre as duas pernas ou projetando-o para frente ou para trás, ou ir para o terceiro ponto do espaço cênico e misturar os dois tipos de movimentos.
A Estrutura Ideológica da Forma no Corpo

O Quadrado
O quadrado é também uma figura racional, representa força, segurança, imobilidade, racionalidade, ausência de emoções e poder. O espaço cênico mais utilizado é o quadrangular ou retangular.  Nossas técnicas de deslocamento na dança são realizadas em função dessa organização espacial que inspira ordem para execução coreográfica. O quadrado, constituído por retas verticais e horizontais, é um referencial para o deslocamento e para nossa inserção no espaço de dança.
Em termos de movimento, está relacionado com o aspecto masculino-pai, porque caminha em linha reta, representando a busca do destino através do intelecto, embora, na acepção de Lawlor e outros como Tuan, sustente a idéia da mãe, por ser considerado a primeira forma nascida e utilizado em mandalas para representar a terra, que possui qualidades femininas.
Podem ser considerados “movimentos quadrados”, os movimentos interrompidos, truncados, estacados e deslocamentos em linha reta. O Shimmy Soheir Zaki, por exemplo, se executado de forma seca, sem tremidos, se torna um movimento quadrado. Estes movimentos trabalham aspectos masculinos da mulher, são movimentos yang.

A Estrutura Ideológica da Forma no Corpo

O Oito


Os esquemas geométricos da vida, no mundo atual, são estudados, segundo Jung, através da microfísica, que, por meio de fotografias, revelam nas imagens, os intervalos das relações geométricas microscópicas. (No entanto, deve-se levar em conta, a interpretação e leitura que os sensores ópticos dos aparelhos, fazem desse mundo microscópico).
Todos estes elementos da geometria se verificam, são interpretados na forma plástica da Dança do Ventre. Ela possui movimentos retilíneos em que a cabeça desliza de um lado para o outro, o tronco (parte superior) e o quadril (parte inferior), também. Ela possui determinados tipos de movimentos com os ombros e o tronco que quando feitos, se unem formando arestas e figuras. Possui movimentos curvilíneos em que os braços imitam serpentes e suas mãos são suas cabeças, em que os quadris se movimentam para baixo e para cima, para frente e para trás ou diagonal, formando o círculo ou redondo e o oito, símbolo do infinito.

Esta questão em particular, o oito, merece consideração especial. Sua definição na matemática é “Lemniscata” (do latim lemniscatum), estudo da geometria referente às curvas em forma de 8. Sua forma pode sugerir instabilidade quando é executado sem constância, de maneira desregulada, sem ritmo, conturbada e agressiva. Quando suas curvas são muito fechadas, passam a sensação de limite e prisão. Mas também pode ser executado com curvas amplas e assumir uma estrutura lírica, sensual e emocional. É também a figura do labirinto, ele vai e volta, vai e volta, exatamente como num labirinto sem fim.
Em seu aspecto positivo, trabalha a simetria e a assimetria, a ordem, o grande e o pequeno, como elementos a serem explorados como recursos para o auto-conhecimento: por exemplo, emoções lineares como a paz, emoções assimétricas e inconstantes como a raiva, as grandes e as pequenas emoções que vivenciamos em cena quando inspiradas pela música ou movimento.
As dificuldades mecânicas em algumas dessas variações indicarão a necessidade de se trabalhar aspectos até então desconhecidos pela praticante que se revelarão, que podem variar, desde uma dificuldade de se realizar um oito num plano diferente, até uma dificuldade de soltar o quadril.
O círculo na Dança do Ventre é uma estrutura bastante conhecida: os redondos, vulgarmente conhecido como “rebolado”.
O interessante é que se unirmos dois redondos, teremos de novo o oito. Num aspecto filosófico,  Aluísio Dias (1998) se refere ao 8 como o número divino. O Número de Deus. E faz a seguinte colocação:
“O gozado é que só agora, com o aparecimento dos números digitais, qualquer um pode observar que no número oito estão contidos todos os outros números.
Coincidência gráfica?
Na verdade o símbolo 8 ou 8 ou 8 é a mesma coisa. Nos prova a dualidade do universo”.
O mesmo autor ainda coloca que a tese do oito foi cientificamente comprovada pelo astrônomo Denis Di Chico, através de uma máquina fotográfica direcionada para o sol, com o objetivo de, durante um ano, na mesma chapa, fotografar a forma do reflexo da órbita da Terra em relação a ele, e o resultado obtido foi: o oito, embora a Terra possua uma rota elíptica que torne os círculos do 8 irregulares.
Ousadia ou não, a idéia existe.
O Universo, ou o Oito, na Dança do Ventre, é um símbolo maravilhoso. Adaptando a idéia de Aluísio, “Nós unimos os versos”.


BJS!!!
Ana Paula

Um comentário:

  1. não é por mero acaso que o oito seja um dos movimentos mais bonitos da dança do ventre...

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